2009-05-09

As noivas-assombração

Humberto Massa e Lucas Andrade

Dedicatória -- às meninas (Ivana e Raquel) e ao Lucas, meu co-autor e minha inspiração.

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Sabe, meu fio, quando eu era criança pequena lá nos Araújo, eu gostava muito de passeá de cavalo. Eu tinha um cavalo bãozim, bãozim, e minha mãe punha nele o nome de Beleléu. Toda veiz que eu saía a pegá o cavalo minha mãezinha dizia "lá vai o Gerardo po Beleléu".

Pois um dia, na manhã cedinha sor nasceno, eu peguei po Beleléu e saí trotano pa depois da vila afora, oiano e dimirano as belezura do meu Araújo sem fim. Eu já tava até co um poco de fome e tinha perdido a noção das hora, e quando prestei tenção, só vi o sor se pono no horizonte. "Virge Santa" -- eu pensei, já imaginano minha mãe escoieno os gaio do pé de marmelo pra fazê vara e pensano na sova de varada que eu ia tomá quando chegasse em casa.

Sabe, lá nos meus Araújo naquela época sela era uma coisa muito rara; nóis, que era famia de camarada da roça, num tinha dinhero pressas coisa não. Entonce, pra mode muntá no cavalo, nóis muntava era no pelo mesmo, e como num tinha arrei nem nada, nóis passava uma corda no fucim do bicho e aquilo que chegasse.

Entonce, garrei na corda do Beleléu e virei ele pa vortá pa traiz e dei na barrigada do bicho com toda força e ele começô a galopá e galopá. O tempo passava, e quando ele queria pará de galopá eu dava na barrigada dele, e o bicho suava, e eu pulava e nóis vinha lá daquela lonjura num galope que num tinha nem tamanho.

Quando eu fui chegando na portera da fazenda de donde nóis morava, já tinha se passado um tempão: cê pensa bem, que eu saí de casa de manhãzinha co sor saino, trotano, e arresorvi de vortá co sor se pono, no galope. Pois entonce cheguei na portera da fazenda e sabe o que eu escuitei? O relójo da igrejinha lá na vila tocano "blém, blém" lá no fundo, bem baxinho, por ditraiz dos canto dos passarim notúrnico.

Aquilo ripiô meus cabelim e gelô minha espinhela: ali donde eu tava era um sumiterim. Eu explico: aquela fazenda que nóis morava era do sô Fabim; esse sô Fabim era um home muito malvado, fio dum home mais malvado ainda, que eu te conto essa história...

O dono da fazenda, antes do sô Fabim vortá da capitar, era o pai dele, o Coroné Fabriciano. O Coroné Fabriciano nasceu coroné não senhor, ele era um camarada do feijão que nem que eu e meu pai e meu vô. Mais ele era um camarada muito forte, um home moreno e arto que dava gosto nas vista das minina da roça tudo. Mas era um home fraco dos caráte, isso era.

Entonce, o sô Fabriciano teve um plano. Essa fazenda, e muitas outra da região, pertencia a um coroné muito, muito rico, chamado Coroné João Joaquim. Esse coroné, já viúvo, tinha uma fia, que chamava sinhazinha Marcelina. A sinhazinha já tinha chegado na idade de casá, lá pros seus dezoito ano, mas o pobre do coroné João Joaquim vivia preocupado dela num arranjá marido. É que a coitadinha era baixinha (ansim pra menos de metro e meio de artura) e mei gordinha e tinha um ôio caído ansim pro lado e umas marca da maleita espaiada pelo rosto e pelo corpo todo.

Sô Fabriciano pegô suas mió ropa que ele tinha ganhado de natar da dona da fazenda donde ele trabaiava no feijão, e foi conversá com o coroné. Ele entonce conversô com ele, conversô ca moça, passô a conversa nos dois -- falô que era muito trabaiadô e que ia fazê de tudo pra ela tê o mió que ele pudesse. O coroné João Joaquim, preocupado que era ca fia num casá e num lhe dá os neto qüele tanto queria vê pa casa afora, entonce deu a mão de dona Marcelina pro home.

Passado uns dois mês desse arranjo, eles se casaro. Com poco tempo de casado, dona Marcelina já viu que sô Fabriciano boa bisca num era: deu pra caí na pinga cuma força que só veno. Um dia, ela cramava qüele dumas pinga que tinha bebido, e que tava fedeno até fala chega, e ele deu nela umas pancada de soco que a dona ficô toda roxa. Ela falô com ele que ia contá pro pai -- ia nada, que morria de vergonha de tê escolhido o primeiro marido que apareceu -- e ele ficô muito aperriado caquilo.

Entonce que ele tramô e aprontô seu primero crime brabo: foi na venda do turco venderão e comprô um toco do mió fumo e umas bolinha de veneno de matá rato. Entonce, massô tudo as bolinha e botô pro mei do fumo, ansim dum lado só. E passô na casa do Coroné, pa mode mostrá ele aquele fumo bão e vê se ele queria pitá um painha daquele fumo que o turco tinha trazido lá das mérica do norte. O Coroné, que gostava muito dum cigarrim de paia, sentô qüele no arpendre; o marvado picô do fumo do lado bão prele, e do lado ruim pro véio, e os dois pitaro do cigarrim um tempo. Nem bem o cigarrim ficô pela metade e o véio começô a passá mar.

Virge, mas nem o malvado num esperava um espetáculo daquele: o coroné começô a tussi e vomitá sangue, e passava mar que passava mar, e chamaro os camarada tudo pra ajudá. Entonce, pusero o véio na cama e ele gritô que gritô e passô mar por seis dia e noite sem pará. No sétimo dia, o médico -- que tinha vindo lá da capitar pra ajudá o coroné -- falô ansim co nhá Marcelina: "Dona Marcelina, seu pai tem jeito não. Ele só vai fazê sofrê e morrê agora. Se a sinhorinha quisé, eu posso dá ele uma injeção que é pro modo dele morrê mais depressa." Sinhazinha, escutando os berro do pai, as tosse de sangue e as nojera saindo do pai, otorizô o dotô de dá a tar injeção.

Naquela época, sabe menino, aqui pressas banda, muié podia cuidá de fazenda não -- isso, o povo dizia, era serviço de home. Resurtô entonce que o sô Fabriciano virô o dono das fazenda. E o home então se transformô de ruim em muito pió. Martratava os funçonário da fazenda tudo, e muitos té foro embora dali de nojo do malvado. Ele se vestia nos úrtimo chique co turco lhe trazia da capitar; a sinhazinha, coitada, ficava ca sobra cas funçonária dava prela. Um dia, ela trelô de cramá com ele daquilo. Ele pegô dua vara de marmelo e deu nela inté rancá sangue, quela ficô dois dia no sal e sem saí da casa de vergonha. Daquele dia em diante, ela ficô com tanta tristeza, que não comeu mais. E nem deu treis mês, foi simbora morrê também.

Virge, mais o home, o invés de ficá triste, que nada. Ficô feliz que nem um porco barrão na lama. E passô a chafurdá nas pinga, a ficá cada vez mais malvado cos funçonário, e querê só prele mesmo tudo do bão e do melhó. Deu orde todo mundo que chamasse de coroné. E ansim virô Coroné Fabriciano, que nem a cidade.

Pois, que naquela época, tinha chegado de vorta pro Araújo um sinhô já bem velhinho, já pa casa dos oitenta ano -- o que naquele tempo era coisa de se dimirá. Ele tinha saído co pai dele dali inda menino pa trabaiá pas banda do mato grosso. Lá, fez fortuna, comprô muitas fazenda, e teve muitos fio. Como ele já tava muito velhinho, resorveu de vortá po modo de morrê na casa que nasceu. Trouxe qüele a fia mais nova pra cuidá dele. Esse velhim chamava sô Gonçarve, e a fia chamava dona Antonina.

Cê veja bem que nessa época, pocos na cidade sabia -- ou mesmo desconfiava -- das malvadeza do cão véio. Claro que muitos suspeitava do home que tinha ficado rico em menos de um ano, mas ninguém nem falava nada -- afinar, o home agora era rico, e gente rica ninguém fica contra, pra num perdê negóço, né?

Pois a dona Antonina, que era sortera, tinha lá pra base duns quarenta e poco. Era uma senhora arta, ansim quais da artura do sô "coroné" -- que media mais duns dois metro pra cima -- e muito distinta. Nunca casô porque, apesá de já tê vivido tanto, o sô Gonçarve tinha uns pobrema de saúde, e ela jurô que ia cuidá do pai inté quele fosse pos pasto mais verde. Os irmão ficaro lá pas banda de lá, seno que o pai dividiu o que tinha pa lá, vendeu umas terra, e veio po Araújo inda co um bão dinhero.

Pois o Coroné Fabriciano, sabeno dessas novidade, foi lá fazê amizade co o sô Gonçarve. E arrumô um jeito dos dois semana vem, semana vai, tê um carteado, quele perdia um dinherim ansim à toa -- coisa e um vintém ou dois -- po véio. O véio, entonce, acabô se afeiçoano co gigante marvado. Pois passô uns quatro, cinco mês, o véio acabô morreno -- como já era de se esperá. Pois o malvado proveitô e pediu a mão da dona Antonina, dizendo que queria ajudá ela ca diminstração dos bem.

Qual! Que nada! Nem bem começaro a morá junto, e o home já caiu de cara na cachaça de novo. Martratava a muié, que foi ficano disgostosa de tê caído na esparrela daquele safado. Inté quando ela ficô prenha do Fabim, ele deu uma sova de correia pas perna dela. Um dia entonce, quando o Fabim tinha uns dez ano, eles pregaro pruma briga feia, e ela veio ca faca pra cima dele. Ele tomô a faca dela, e deu-lhe umas dez facada po bucho. Ela morreu ali mesmo no arpendre da casa.

Ele, entonce, mandô o Fabim pra casa duma tiavó que morava pa capitar; deu-lhe dinhero que bastava pa estudá, e nem quis mais sabê se o menino tava vivo ou morto.

Passaro mais uns dois ano, e debutô na cidade uma menina que era tão bonita que garrô de image nos ói do véio gigante. Nhazinha Maria Tonieta era uma formosura que gradava os marmanjo da cidade toda. Nascida de famia ansim arranjada, morava na vila. Tinha os cabelo rucim que parecia umas páia de mio ansim quando tá sortano. Os ói era azul que nem o céu dum dia de sor forte sem uma nuve. A pele era branquinha que nem a espuma dum leite que tinha saído da vaca. As proporção do corpo era perfeita que nem aquela tal estauta do milo queu vim a conhecê na tevelisão, agorinha já tano bem véio.

Pois o sacripanta arresorveu que ia casá qüela. E, como tinha dinhero té dimais, pediu a mão pro pai da moça, que cabô concordano -- mas pediu uns oro de dote pra ficá nas mão da moça, porquê já tinha ouvido umas história sobre o home, e num queria ca fia passase aperto.

Pois cê acredita que, antes mesmo do casamento, o home quis ca moça se deitasse qüele. Ela disse que não, e ele de malvado deu-lhe a mão na cara. Ela pensô ansim "esse home malvado num sabe o quele fez; agora, ele comigo num se deita de jeito nenhum." Mas, faltano pocos dias pra festa, jeito de desmanchá o casamento num tinha. Pois ela foi-se na venda da vila do riberão um dia, e comprô uma garrucha.

Pois procês que são da cidade e nunca viu uma garrucha, uma garrucha é ansim parecida cuma pistola ou cum rervorve, só que a boca da bicha é aberta, pa pô a pórva, despois os chumbo. Tem uma pedrinha de pedernera que faiz a faísca, e assim que atira. Pois o vendero da vila do riberão tinha uma garrucha pequenininha. E a nhazinha Maria Antonieta arrumô um lugá prela pros meio daquelas renda toda, embaixo do sobaco no vestido de noiva.

A festança que o Coroné Fabriciano era de pompa e circusntança. Tinha visita da capitar que encheu as posada da vila tudo, a casa do home, e de otros comerciante da cidade. Dentre as visita, a tal da tiavó co fio do home, o Fabim.

A pinga veio de caminhão, que acabô ca pinga dos alambique de até vinte légua de distância da vila. Na porta da igreja, o bolo cos bonequim de noivo e noiva encima esperava o finar da cerimônia pra sê cortado praquele tantão de gente que a vila nunca viu.

Pois que quando o padre preguntô ela se ela queria casá com ele, ela puxô a garrucha de dentro das renda do vestido e falô: "eu num caso co home safado que qué deitá sem casá e nem co home que bate na muié não." E sentô chumbo po peito do gigante afora, que voou chumbo quente e sangue pos padrim do casamento.

O menino Fabim, veno o pai assassinado na sua frente, correu pa porta da igreja, garrô da faca que ia parti o bolo e, pelas costa da noiva do pai, enfiô aquela facona po meio das costela inté o coração. E noivo e noivo ficaro ali, um pra cada lado, enquanto o povo oiava sem entendê, sem fazê nada, paralisado.

Pois dispois disso, a tiavó mais o menino vortaro pa capitar; as fazenda ficaro por aí, jogada, por uns vinte ano até que o moço vortô da capitar pa cuidá dos bem do pai. Dize que ele perdeu tudo ca tiavó tinha pa capitar, nas mesa de jogo dos cassino, e que as fazenda num pode sê vendida, e por isso, ele tem que diministrá pa podê vivê agora.

O home tinha feito, do ladim da portera de entrada da fazenda, o mais longe que podia da sede, um sumiterim donde tinha enterrado as duas muié. A tal da tiavó achô por bem enterrá noivo e noiva ali mesmo, pa vortá pa capitar o quanto antes.

Pois dispois de contá essa história toda, eu lhe digo, meu fio: era ali aquele mesmo sumiterim que tava na minha frente, nas medida queu abria a portera, e as doze badalada da meia-noite tocano, e eu, um menino de oito ano, no lombo dum cavalo cansado que num ia corrê mais nada, vi a coisa mais fantástica da minha vida: dum dos túmo alevantô um home moreno, arto e forte que era um gigante, com cara de camarada da roça, mas vestido que nem um noivo de casamento da capitar.

Em seguida, de oto túmo, alevantô uma muié feinha, baxinha, gordinha, ca cara cheia de buraco e o ôio caído, e pegô duma pedra. Do túmo do lado, uma muié mais véia, arta que nem o gigante, pegô duma pedra ainda mais grande, e ansim do nada, pareceu uma moça vestida de noiva, que era a noiva mais bonita que já vi na minha vida -- e óia que eu tô quais chegano nos cem ano -- e essa noiva pegô duma pedra ainda maió. Elas começaro a batê no gigante caquelas pedra, e quando uma sortava duma pedra, era pa pegá um pau de moirão de cerca que tinha por ali, e elas batia no home sem dó que dava inté medo.

E eu paralisado, oiano aquela cena, os ói já inchado de lágrima de medo e as carça moiada, quando as treis muié me viro. Elas viero, cos pau na mão, chegaro ansim mei metro de mim, entonce a moça bonita vestida de noiva oiô nos meus ói, alevantô aquele moirão de cerca no arto e gritô:

"GERARDO!!!"

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2009-05-03

X-Men Origins: Wolverine

A história não é exatamente o que eu gostaria que fosse (nem dá pra explicar aqui porque, sem spoiling) mas o filme é bem trabalhado. Mas, qual é, "Jimmy"??!!
Valeu o trabalho (dois dias de tentativa, porque na sexta todo mundo resolveu ver o filme e eu tentei quatro sessões em dois shoppings diferentes, sem sucesso, pra conseguir ir ver ontem com o Lucas) e foi ultra-divertido. Recomendo.

Atualização

As coisas têm andado muito mais devagar do que eu gostaria no último mês. Minhas tentativas de sincronizar com o meu "cliente" do G3 estão sendo infrutíferas, quando eu apareço online ele não está. A #oi #oifail #velox #veloxfail me deixou sem internet na prática por uns 40% do mês de abril, tendo voltado a funcionar a contento só na última quinta. O #twitter foi o meu jeito de me comunicar com o mundo, já que ele é usável a partir do celular e (ainda) funciona de dentro do escritório.
A pós já mudou de ciclo: o primeiro ciclo, Fundamentos de IxD, Usabilidade e Fatores Humanos, terminou na última terça, e o segundo ciclo já começou com Estilos de Interação que, na minha opinião, é uma matéria ultra-interessante. Todos os professores do curso -- o Caio, o Marcos André Kutova, a Karine e o Leandro, e agora a Marília -- se mostraram extremamente competentes em prender a atenção dos alunos e estimular a nosso interesse e criatividade.
E eu estou (re?-)aprendendo a escrever artigos. Eu queria que o László, a Sibele ou o Luiz Cláudio tivessem uma cópia da nossa monografia sobre GUI (de 1988!!!) ia ser divertido reler aquilo... muito embora não tivesse referência tecnicamente válida nenhuma (foi escrita em cima de artigos da Dr. Dobbs e da Byte :-DDDD)
Estou tentando utilizar o ZumoDrive como método de backup (principalmente das nossas fotos), porque ele tem um cliente legal para iPhone e iTouch, o que faz com que eu consiga por exemplo mostrar novas fotos para meus colegas sem maiores problemas. Até agora não tenho reclamações.
Viagem para Brasília no FDS do dia 15, para o casamento da Geysa e, n o escritório, trabalho, trabalho e trabalho (vou elaborar mais nos próximos posts, coisas interessantes aconteceram)