2009-12-01

Vida de super-herói

O herói olha do alto da torre.
A vítima, em queda livre, desaba do helicóptero, inclinado, fumegante, no céu.
O herói salta. Não é um salto de fé. Não há fé. O herói não acredita que irá sobreviver, nem mesmo acredita que a vítima irá sobreviver. Não importa. Ele não tem que sobreviver. Ele não tem que viver tendo sido herói. Ele é herói, e o que importa é viver sendo herói. Ele alcança a vítima em pleno vôo e a segura nos braços. No barulho do vento, as palavras "tudo está bem" perdem-se. E são apenas palavras. O herói se posiciona sob a vítima, levanta a nuca, e respira uma última vez.
O chão esmaga seu quadril, suas costelas, seu pescoço. Seus pulmões, perfurados, começam a sangrar, e ele sente o cheiro do sangue em sua boca; logo, eles estarão inundados e pararão de respirar. Entretanto, seu corpo foi colchão o suficiente para o que mesmo não ocorresse com a vitima. Ele afasta a cabeça desta, que estava presa contra seu peito, e a vê respirando normalmente. Sua vida toda faz sentido. Expira.

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